O luto tem suas facetas, ora estamos bem ora não, independente do tempo que passou. É importante continuar caminhando pois, nossa vida é como um vapor e também tem um tempo certo para acabar aqui. Sempre haverá um vazio, uma pergunta sem resposta. Parece que um nó na garganta insiste em permanecer. Após a perda de um filho, nada mais é igual. Quando tive que me separar fisicamente do meu filho nesta Terra, minha alma se esvaiu, pensei que meu corpo iria sucumbir, mas meu espírito, de certa forma, me puxou para a vida. Pensando que estava sozinha na multidão, percebi que mesmo não percebendo, havia Alguém que se inclinava para ouvir meu grito silencioso e meus gemidos inexprimíveis. Enquanto caminhava, era sustentada. Embora quisesse mudar e me revoltar, acabei caindo em cordas de amor. Meu filho também foi envolvido, foi amado e desejado não só por mim, mas por quem lhe concedeu o dom da vida mesmo ainda no silêncio do meu ventre. Volta e meia, voltava às lembranças daquele dia inesquecível e respondia à minha mente e ao meu coração: “Nos veremos em breve”.
Apesar de saber que somos tantos, o que sentimos é muito individual e particular. Parece um grito solitário. É um caminhar sem direção certa. Não há manual, não há padrão. Vamos descobrindo ao longo dos dias naquilo que estamos nos tornando e naquilo que somos capazes de fazer. Após um período de tempo vivendo o luto, vemos e sentimos transformações. É possível voltar a sonhar, a fazer planos, a lutar por objetivos, a sorrir e a se alegrar. Às vezes essa transformação muda até o rumo das nossas vidas, nos leva a novos lugares, nos muda no profissional, no pessoal e até mesmo no espiritual. Nesta caminhada descobrimos que não estamos sozinhos. Existem muitas e muitas famílias que já viveram esta dor e muitas outras que ainda passarão por essa experiência árdua de vida. Por isso, quando nos unimos nos sentimos mais fortalecidos e conseguimos realizar e conquistar tantas coisas, mesmo que o trabalho seja de formiguinha e pareça invisibilizado. As nossas dores são transformadas em conquistas.
Percebemos que podemos vencer nossos limites e subir a mais alta montanha só para gritar o nome do nosso filho; podemos fazer alguma arte para homenageá-lo; podemos trazer mudanças na sociedade para fazer justiça pela sua vida e pela vida de muitas famílias e tantas outras coisas. Tudo isso é um refrigério para alma e um acalento ao coração. Este mês de outubro foi muito especial com várias ações ecoando no mundo para sensibilizar a sociedade, os profissionais da saúde, as autoridades e todos que de alguma forma podem fazer a diferença nestas despedidas dolorosas. É onde vemos que nossa dor se une com outras dores gerando uma potente onda de luz chegando aos lugares onde ela precisa chegar para transformar.
Bruna Spregacini Diez
Mãe da Helena e da Micaela na Terra e do Aaron no Céu.