Sobre Ser e não Ser Mãe

Já são três anos desde a última vez que me permitir sonhar com algo que não fosse palpável… Fazer planos… Idealizar o futuro com uma precisão matemática, como se isso fosse possível. Tudo parecia no controle. Vivenciar a maternidade em sua plenitude, inclusive no que de mais doloroso ela pode trazer que é a dor da perda.
O que eu aprendi com a maternidade?
Aprendi a perder; aprendi a me perdoar; aprendi a deixar rolar; aprendi a esperar; aprendi a me cuidar; aprendi a sofrer por amor; aprendi a acreditar; aprendi a ter medo…
Aprendi a me rasgar(falar) e me remendar. Essa frase me define enquanto mãe, em minha plenitude.
Quanto tempo dura um luto? O que esperar após vivenciar a perda de um filho? Como se amar? Como amar o outro? Como ser feliz novamente? Quando me permitir sonhar com a maternidade novamente? Quando vou esquecer? Deus sabe, realmente, de todas as coisas?
Foram três anos desde as duas experiências mais dolorosas da minha vida. O dia de hoje, o ano de 2016 foi escolhido para romper o silêncio e mais uma vez me rasgar, abrir uma ferida confessada em mais de um ano e meio de terapia. Me rasgarei a fim de agregar e de fortalecer pessoas que, como eu, passaram por um enfrentamento doloroso e que precisam falar, repensar, transformar e renascer em busca de um sonho de maternidade possível seja ela qual for.
Nesse tempo foi tudo muito difícil… Há quem tenha chorado comigo; há quem tenha ignorado a minha dor, há quem me magoou por minimizar a minha dor. Permitir-me transformar a dor em força motriz tem sido um processo longo e cheio de entraves, mais a vida segue e hoje a minha realidade é de mobilização e de conscientização.
Para da voz, para auxiliar e fortalecer, tratando com empatia e solidariedade com quem sofre a perda gestacional e neonatal é que idealizei o nosso CASULO DE AMOR: Grupo de Apoio a Perda Gestacional e Neonatal.
Nesses anos senti falta do acolhimento e da escuta. Encontrei alguns amigos e o psicólogo que, no meu processo de verbalização me despertou o desejo de me movimentar em prol dessa causa. Hoje, pretendemos, com o apoio de amigos solidários, profissionais de diversas áreas, oferecer um momento de reciprocidade, acolhimento e escuta aos envolvidos nessa realidade tão dolorosa. A tarefa é árdua, difícil, muito desafiadora, mas e de suma importância para o Município de Vitória da Conquista-Ba.
Vamos nos unir em prol de uma elaboração digna do luto e da sensibilização de todos os envolvidos no processo de vivência e acompanhamento da perda Gestacional e Neonatal.Idealização e Coordenação:
Paula Varlanes Brito Morais-Pedagoga e Mãe depoente

Amigas e Colaboradoras:
Maria Cristina Benevides Sá Carneiro-Psicóloga
Mariane Cotrim Shwenck Fagundes-Psicóloga

Contato:
WhatsApp: (77)99173 1191 – PAULA
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João Daniel, pequeno guerreiro

E depois de dois anos de casamento, uns outros 3 de namoro e uns 6 meses de noivado, decidimos, precisamos multiplicar nosso amor.  Decisão tomada, e um mês depois estava eu recebendo o tão sonhado beta positivo. Como contar para o papai?! Presentinhos e beta embaixo do travesseiro, e quanta emoção… Desde  o dia 26 de março nunca mais fomos os mesmos… Mamãe enlouquecida querendo comprar todas as coisas mais lindas do mundo e mesmo sem ter a comprovação de exames, já sabia que seria o João Daniel. E as 16 semanas a comprovação, lá estava o piu piu aparecendo. Nova surpresa pro papai, estava vindo um corintiano Então mamãe comprou a primeira roupinha do Corinthians. Desde então mamãe surtou, um mundo azul, e muuuuuuitas compras, porque o príncipe merecia o mundo. Cada centímetro de barriga que demorava a crescer era comemorado. Como fomos felizes, quanto amor em 6 meses… Então veio o primeiro susto, Joãozinho tinha puxado da mamãe a agonia. Queria nascer. Então nascia em mim o espírito guerreiro de mãe. Toda a minha vida parada para ficar em repouso absoluto a fim de que o neném esperasse e engordasse. Vaidade? Peso? Nada disso importava mais. Mas as 27 semanas e 3 dias, dia     02 de setembro, era chegado o dia. O dia mais feliz das nossas vidas. Joãozinho veio com toda força, e lá estava eu em um segundo trabalho de parto, na mesma gestação. Ali descobri a força do amor que tudo sofre, tudo suporta. Dois partos de um mesmo filho. Amor dobrado. Papai guerreiro, não largou a mão da mamãe. Suportou e deu forças em tudo. Nascia ali um pai, o melhor do mundo. O primeiro e único choro que ouvimos do nosso pequeno. Lindo. Só no dia seguinte o primeiro encontro, separados pelos aparelhos, pela incubadora, mas inebriados de amor. Apenas 30min, e como passaram rápido… Tão pequeno, tão frágil, mas quando mamãe e papai o tocavam, respondia mexendo os pezinhos e mãozinhas. Venceu o primeiro dia, venceu o segundo… Cada dia comemorado como um ano… Dia 05, terceiro dia, papai e mamãe foram visitar, nenem de olho aberto a primeira vez. Encontro de olhares, dividido entre ver o papai e a mamãe… Respondia com piscadas. Era a despedida. À tarde a notícia, o guerreiro descansou. Um filme então passa pela nossa cabeça… Tantos planos, tantos sonhos… Dois dias. Uma certeza: faríamos tudo de novo só para ouvir aquele único choro, aquela única piscada. Pais de um anjo. Decidimos então que precisávamos eternizar nosso menino, que lugar melhor do que o Rio-mar?! Esse rio que me trouxe a Macapá, que uniu a mim e ao meu marido em amor, seria a morada do nosso filho. João Daniel hoje mora por todo o Rio Amazonas, o maior rio guarda nosso maior amor.

Depoimento enviado pela mãe Joana Lustosa

Anjo Cecília

Bom eu me chamo Lívia e tenho 34 anos estou casada com o Marquinho a quase 7 anos. O nosso sonho era que Deus nos dessa a graça de sermos pais, porém já havia um tempo que estávamos querendo engravidar e não estava conseguido devido ao ovário policísticos, até que estava no consultório da minha nutricionista e havia comentado a ela que me deu muita vontade de tomar sorvete e ela me questionou se poderia estar grávida, disse a ela da minha dificuldade e que minha menstruação ficava vários meses sem vir, mesmo assim me convenceu de realizar o exame, no mesmo dia no final da tarde o tão esperado resultado, foi positivo, eu estava grávida, a alegria tomou conta do meu ser, não sabia se chorava ou se sorria de alegria, chegando do trabalho comprei um sapatinho vermelho para dar a surpresa para meu esposo, momento único de nossas vidas.
Na mesma semana fui ao médico e ao me examinar disse que acreditava que já estava com um tempinho bom de gestação e não sabia, neste dia pude escutar o coraçãozinho do meu anjinho, quanta emoção, pena que meu marido estava viajando, sai do consultório liguei para ele chorando da imensa alegria que estava sentindo, ele chorou no telefone.
Na próxima semana fiz o ultrasom e a notícia feliz e também outra preocupante, a feliz é que estávamos gravidos de uma linda menininha, tudo constanto que o desenvolvimento dela estava ótimo, porém a tristeza que o meu colo do útero estava muito fino e que a partir daquele momento era repouso absoluto, liguei para meu médico desesperada ele disse para ir ao hospital no outro dia no final da tarde de jejum que provavelmente teria que fazer um procedimento chamado cerglagem, a preocupação era demais, estava com tanto medo, meu marido me dando força e falando que tudo iria dar certo, assim passou a noite e no outro dia no final da tarde chego ao hospital e meu médico me examina a joga uma bomba atômica em nós dizendo que meu colo do útero ja teria aberto que agora era esperar o aborto, me desesperei pedi para ele me da outra solução, mesmo se houvesse pouca esperança, ele disse que poderia fazer o procedimento da Cerglagem, porém quando fosse costurar o colo do útero poderia pegar na plascenta e ela estourar, eu disse que queria arriscar que tinha muita fé que isso não ocorreria, fiz o procedimento e com a graça de Deus o médico conseguiu fazer, fiquei 7 dias internada para tomar antibiótico para não ter perigo de nenhuma infecção, após esses dias ele me deu alta e pediu repouso, eu levantava só 1 vez para tomar banho e fazer minhas necessidades, o xixi era pela comadre, fiquei 14 dias assim. Comecei a sentir minha pricensinha que já tinha até o nome que o papai deu Cecília, ela estava sempre mechendo as vezes era tanto que falava com ela para mecher menos pois tinha muito medo dos pontos estourarem, esses dias que pude sentir ela e vivenciar a barriga crescendo foi maravilhoso. Já estava no 5 mês de gestação, agradeci a Deus por viver aquele momento tão sonhado.
No dia 2 e Dezembro de 2015 comecei a passar mal estava saindo um líquido estranho e minha barriga ficando dura, liguei para o médico e ele falou que se não melhorasse era melhor ir ao hospital e assim fiz, chegando lá outra médica me examinou e disse que o ponto havia estourado e que já estava em trabalho de parto, meu mundo caiu, não tinha mas nada o que fazer, que sofrimento. Cada vez mais as dores do parto vinham mais fortes e eu fazia mais força para segurar a minha bebê até que o meu médico chegou e disse a notícia mais triste de toda as nossas vidas, que não teria jeito e que eu teria que deixar o meu anjinho nascer, depois disso não passou 5 minutos e minha pequena nasceu por parto normal no quarto do hospital, o médico e a enfermeira saiu correndo levando ela na CTI Neunatal e eu tive que ir para o centro cirúrgico para fazer a curetagem, não tinha mais chão, até que na hora que estava na sala de recuperação a enfermeira disse que minha pequena estava respondendo ao CTI nesta momento estava louca para sair daquela sala e falar para meu esposo olhar ela e ficar com ela. Chegando no quarto a primeira coisa que falei era para meu esposo correr lá na CTI que a nossa Cecília estava lá, passou um tempinho ele chegou com uma carinha e eu perguntei a ele o que a pediatra disse, ele não queria falar, até que não conseguiu e me disse que a pediatra falou que não tinha mais jeito que a nossa princesinha nao respondeu ao oxigênio e se eu queria que ela fosse despedir de nós, eu disse que queria muito ela chegou no quarto e pela primeira e última vez eu pude pegar a minha princesinha tão pequininha e tão amada, não contive fiz tanto carinho dei beijinhos, rezamos e entregamos o nosso anjinho para o papai do céu cuidar e tenho fé que quando chegar a hora encontraremos ela novamente no céu, pois lá é a sua morada e nós seus pais aqui na Terra tem que fazer de tudo para sermos seres humanos melhores para conseguir chegar no céu também. Fizemos o velório e o enterro e não me arrependo de nada, pois foram momentos que pude ficar a mais com nosso anjinho, acredito que toda mãe que viver essa perda é necessário viver esses momentos, muitas pessoas falaram que era melhor não que ficaria em minha memória coisas ruins que ja estava fraca e na verdade estar com ela me fez só bem, não me arrependo hora nenhuma por ter escolhido velar e sepultar minha filha.
Hoje percebo o quanto é sublime o dom da maternidade e paternidade, esse amor não tem como dizer a dimensão somente sentimos, agradeço a todo momento por Deus nos ter permitido viver tudo isso, foi triste saber que não teremos a Cecília com a gente fisicamente mas dentro de nós será eterna, neste período percebi o marido que tenho do meu lado: companheiro, amoroso, cuidadoso e esteve a todo tempo com a gente, verdadeiramente estava ” gravido ” comigo porque viveu tudo que vivi e sentiu tudo também, se já o amava hoje amo mais ainda.
Hoje 2 de Março faz exatamente 3 meses que a Cecília veio ao mundo e também foi embora para junto de Deus é um dia muito triste por nao estar com ela fisicamente e também feliz por saber que tenho um anjinho intercedendo a Deus pelos seus pais aqui na Terra, a se alguém me perguntar você é mãe eu sempre direi que sou sim, sou mãe de um anjinho mais lindo que vive junto de Deus.

— comMarco Antônio de Sousa.

Um amor distante

Sempre tive o sonho de ser mãe, sempre me imaginei com no mínimo três filhos no banco de trás do carro. E quando conheci meu companheiro, senti que teria meus filhos com ele. Em abril de 2015, acordei numa manhã de domingo me sentindo diferente, senti que algo estava “errado” com meu corpo. O dia foi passando, e veio uma sensação muito forte, de que poderia estar grávida. Dito e feito, neste dia fiz dois exames de farmácia, todos dando doisrisquinhos. Não bastando na manhã do dia seguinte, fiz com a primeira urina do dia, e de novo dois risquinhos. Fui então ao laboratório antes de ir trabalhar fazer o exame de sangue, e o resultado sairia ao meio dia. Foi a manhã mais longa de trabalho que já tive. Enfim, chegou o horário que o resultado estaria disponível no site do laboratório, tremia do pé até a cabeça, e foi aí que vi o POSITIVO mais profundo que já havia visto. Os dias foram passando, e os medos aparecendo. Eu havia mudado de emprego fazia quatro meses, eu e meu noivo estávamos morando juntos a pouco tempo, estávamos nos redescobrindo como casal, e agora tínhamos que lidar com a maternidade e a paternidade. Turbilhões de sentimentos começaram a surgir, e com ele um pequeno sangramento. Fomos logo à médica, e para nosso alívio e emoção, conseguimos ouvir o coraçãozinho daquele serzinho que estava crescendo ali dentro. Foi neste dia que a ficha realmente caiu, no ventre nascia um novo coração. Depois foi a descoberta do sexo, a maioria das pessoas falavam que era uma menina, mas eu sentia que era um lindo menino. E de fato era, o nosso Vicente estava a caminho. Quando estava tudo certinho, começaram a surgir meus enjoos, nossa como enjoei. Foram cinco meses muito complicados. O mal estar tomava conta de mim, o dia todo. Eu tentava ficar feliz com a minha gravidez, mas infelizmente não conseguia. Quantas vezes me peguei, sentada no banheiro chorando, pedindo para que aquilo tudo terminasse. Sim, me vi egoísta, e me perguntando por que tinha engravidado. Nesses momentos, não sei o que seria de mim sem o meu noivo, ele sempre ali do lado, tentando me acalmar e me passar todo amor, que eu não estava conseguindo passar para o Vicente. Depois do quinto mês, veio o alivio, os enjoos foram passando, a barriga crescendo, e finalmente comecei a tentar estabelecer um vínculo com meu filho. Mas tinha uma força que era maior que a minha vontade, nós dois não conseguíamos nos vincular de verdade. Sentia muito amor por ele, mas ao mesmo tempo era um amor distante. O pré-natal foi passando, o segundo morfológico também, e sempre saímos com a frase da médica ecoando na cabeça: O Vicente está nota 10, mãe e pai”. Quase no final da minha gestação, por uma benção divina, resolvemos trocar de médica. Essa nova médica, pediu alguns exames extras, que a outra nunca havia pedido ou comentado. Um desses exames era o ecocardiogramafetal. Fui confiante fazer o tal do ecocardiogramafetal, sempre escutava que o Vicente estava nota dez, que nunca passou pela minha cabeça que ele poderia ter alguma coisa. Foi a primeira vez que fomos eu e o Vicente, fazer exame, estava tão certa que estaria tudo bem, que disse ao meu noivo que não precisava ir junto. Nesse dia meu chão se abriu, o Vicente não estava nota dez, ele tinha uma cardiopatia grave, e teria que passar por cirurgia logo depois que nascesse. Recebi naquele dia a pior notícia da minha vida. Começamos uma corrida contra o tempo. Eu estava com 33 semanas de gestação, e teríamos que encontrar uma equipe especializada. De um dia para o outro precisávamos de cardiopediatra, cirurgião, obstetra, pediatra de UTI neo, e assim por diante. Eu estava exausta, mas meu noivo sempre confiante, pesquisando, estudando sobre a cardiopatia, e entrando em redes e grupos de apoio. Foi assim, que encontramos uma equipe em Blumenau, que nos acolheu de forma brilhante. Era tudo que precisávamos naquele momento, acolhimento e empatia. No fundo nós dois sabíamos, que poderia não dar nada certo, que poderíamos sim, perder o Vicente. Mas continuamos seguindo, da melhor forma, mais cúmplices ainda um do outro. O Vicente estava nos unindo ainda mais como casal. Mas aquele sentimento de amor distante, com o Vicente, continuava brotando no meu coração. Que sensação maluca, eu sempre quis ser mãe, e de repente eu não estava conseguindo criar vínculo com o meu filho. Chegou o tão sonhado dia do parto, iríamos conhecer nosso menino, e também sabíamos que quando ele saísse da minha barriga, as coisas seriam ainda bem difíceis. Mesmo com o medo que tomava conta de mim e do meu noivo, fomos tão seguros e felizes para o centro cirúrgico, que conseguimos ter o momento mais mágico que já tivemos até hoje, com tranquilidade, e aceitando tudo o que o Vicente estava nos trazendo. Foi uma explosão de amor que aconteceu naquele momento, o choro forte do Vicente nos deu ainda mais forças. Voltei da recuperação era quase meia noite, e quando cheguei no quarto meu noivo estava me esperando, para contar como o Vicente estava, e me mostrar as fotos que ele havia tirado na UTI neo. Sorrimos muito, ele era lindo. Logo pela manhã acordei e quis descer para vê-lo. Eu e meu noivo, olhávamos para ele, e comentávamos como ele era perfeito, e que estava tão sereno, parecendo não sentir dor. Era a pele mais macia que já acariciei, e um dos bebês mais lindos que já tinha visto. No final desta mesma manhã, recebemos a notícia de que a cirurgia iria ser feita naquela tarde mesmo, pois a saturação do nosso menino estava muito baixa. Foi a tarde mais longa das nossas vidas. O Vicente ficou 4 horas em cirurgia. E no final, com um aperto de mão que o médico deu no meu noivo, veio a melhor notícia: Deu certo!!! Nisso, o Vicente estava saindo do centro cirúrgico, voltando para a UTI, e ainda conseguimos dar um beijo na testa dele. Foi a melhor comemoração que tive até hoje. Mas nossa comemoração não durou muito, duas horas depois, estávamos recebendo a pior notícia, o Vicente não havia resistido. Vivemos sentimentos muitos extremos em tão pouco tempo. Me vi em questão de horas comemorando a vida, e chorando pela morte. Um dia depois, eu ganhei alta, e saímos do hospital sem o nosso Vicente. Passavam tantas coisas pela minha cabeça. Mas uma voz gritava dentro de mim, de que nós tínhamos feito tudo que esteve ao nosso alcance, e isso me acalmava. Hoje quase três meses depois, eu não sou a mesma mulher, aprendi e cresço tanto com isso todos os dias, que hoje me enxergo tão mais forte, e tão mais poderosa.

Obrigada meu Vicente, por me dar esse empoderamento, e por me preparar desde o início, você já sabia que partiria em breve. Tu sempre me destes sinais que nosso amor, seria mesmo distante, como sempre senti.

Depoimento enviado pela mãe Manuela Zubaran Santos

20/02/2015

Quando a saudade dói

Perdi meu filho com pre eclampse grave e hoje não  está  sendo fácil  pois as lembranças  vem sempre em minha  mente principalmente  quando  vai  chegando  a data que  ele veio à  falecer dia 28 de fevereiro  fica marcado  em meu coração  ….. pois afinal vcs que  passaram  por isso  sabe o que  eu sinto e como se encontra  meus sentimentos  …. hoje mim resta só  saudades  do  meu  pequeno  Heitor  minha  história  e essa …. ao lembrar que ele esteve comigo 8 meses sentindo  seus movimentos  o seu crescimento  e depois acontecer isso infelizmente  mim sinto  às vezes arrastada.

Hoje à saudade aumentou pois  hoje  completou 1 ano que eu ganhei  ele pra Jesus. Quero  aqui expressar o meu testemunho  pois a minha vida corria  risco de vida devido  pré eclampse grave  mas hoje  estou  aqui para  testifica que  Deus  nos livra do mal mesmo quando  as circunstâncias  diz  que  não  tem jeito. O Heitor  está no céu  é  eu aqui porém ele estará  sempre em minhas  lembranças  Deus sabe o que faz .às  vezes fico indignada e com a falta de responsabilidade  do  meu médico  mas Deus ele sim e os médicos  dos médicos  creio no Deus do impossível  é hoje ele sabe que  o  meu  coração  se  encontra  triste . só ele para alegrar  o meu 💖😢

Depoimento enviado pela mãe Elikamar Barbosa

Milagre existe

Sou a Thazy.  A um tempo atrás enviei uma mensagem a vocês contando sobre minhas percas gestacionais.
Hoje criei coragem em enviar o email.
Tive 4 percas, sendo uma de gêmeos. Sofri muito na gestação da Emanuely fui dormir com ela se mexendo e acordei com a barriga dura e ela não se movimentava mais. Corri pra maternidade e mais uma vez ouvia o que tanto temia se repetir.
Mãezinha não tem mais batimentos.
O mundo novamente se abriu aos meus pés.  Passei exatos 21 dias com ela morta dentro de mim. Pois os médicos diziam;  seu corpo a expulsara. E isso não aconteceu. Toda semana ia a maternidade ver se meu colo estava abrindo e a cada consulta a esperança de ser um engano e ela estar viva. Mas não aconteceu.  Das 4 perdas foi a que mais sofri. Pois ela se desmanchou dentro de mim e nem um sepultamento consegui fazer. Não vi seu rostinho, nem seu corpinho.
Hoje sou mãe de um lindo menino.  Uma gestação nada fácil.  Tive descolamento de placenta. um hematoma . Com 27 semanas entrei em trabalho de parto. mas com a ajuda da equipe médica conseguimos parar o trabalho de parto.  Na 32° novamente entro em trabalho,  mas uma vez foi conseguido parar o trabalho de parto.
Tive crises convulsiva em toda gestação, muitas internações. Apliquei 262 vezes clexane em minha barriga.  Cesariana marcada para dia 21/11/2014 minha bolsa rompe no dia 15/ 11 / 2014 chego no hospital em trabalho de parto,  mas na hora da dor convulsiono. A cesariana de emergência foi realizada. Alexandre Henrique nasce com 47cm 3,100kg.
Hoje me falam. Nossa você foi muito louca em engravidar depois de tantas perdas. Não teve medo. Ainda bem que já conseguiu agora vê se não tenta mais.
Se eles soubesse que em cada perda uma força enorme nascia em mim. Me fazia lutar mais e mais. Não me arrependo de ter lutado. A recompensa é indescritível.  Não poderei mais engravidar, mas se pudesse não pensaria duas vezes em ter outro.
Um dia minha família estará completa.  As minhas princesas Emanuely e Andrieley com os príncipes Mikael, Alexander e Alessandro .
As mãezinha que hoje passam por essa dor, não desistam.  Lutem fale apena. Eu consegui vocês também irão conseguir.

Depoimento enviado pela mãe Taziana

Para sempre Pedro

Depois de um diagnóstico de endometriose avançada, em que eu teria muita dificuldade de engravidar, veio a boa notícia: eu já estava grávida! Pedro, cujo nome já havíamos escolhido muito antes de sua vinda ser anunciada, estava por chegar. Que notícia maravilhosa foi aquela, depois de sair aos prantos do consultório, imaginando que eu jamais poderia ter o privilégio de ser mãe.
Embora Pedro fosse o primeiro filho e tudo estivesse normal, planejamos a cesárea. Eu tive muito medo de que algo desse errado no parto normal: que demorasse muito e faltasse ar a ele, que o cordão pudesse sufocá-lo, e outras milhares de coisas que passaram pela minha cabeça. Eu, com minha inocência de mãe de primeira viagem, não poderia jamais imaginar que o perigo real seria invisível; mal sabia que o que estaria por vir era muito pior: um vírus.
A gravidez foi perfeita. Sim, tive muitos enjoos, hipotensão, indisposição, coisas normais da gravidez. No mais, Pedro estava muito saudável, crescia e engordava dentro da normalidade. Um grande alívio, pois eu sempre sonhava que meu menino morria, que eu abortava; talvez fosse um presságio, mas pode ser que fosse somente medo e insegurança de mãe inexperiente.
Naquele 11 de janeiro de 2016, estávamos no hospital muito animados, cheios de esperança e curiosidade para saber como seria nosso Pedro, qual seria a cor de seus olhos, sentir o calor de seu corpo, poderíamos, enfim, ter o nosso menino nos braços. O destino, porém, não permitiu que eu pudesse ter esses sonhos concretizados: quatro horas após o parto meu menino se foi. Depois que ele nasceu, ainda na sala de cirurgia, só pude vê-lo rapidamente. Percebi que algo estava errado. Mas como, se em todos os exames estava tudo bem? Pedro chorou ao nascer, mas em seguida só houve silêncio. Ele estava com dificuldades para respirar. Foi levado à UTI. Intubado. Enquanto eu me recuperava, Pedro lutava para sobreviver longe de mim. Vi meu menino na UTI tentando ser reanimado; levaram-me para vê-lo antes de sua partida, que já era notória. Em pouco tempo, a notícia que ele havia partido; meu marido me deu a notícia, com a voz embargada e tão destruído por dentro como eu. Meu menino tornara-se um anjo. Fui vê-lo novamente, já sem vida. O tive pela primeira e última vez em meus braços.
Eu jamais saberei qual seria a cor de seus olhos nem poderei sentir o seu calor. Mas agradeço àqueles profissionais e ao meu marido que permitiram, com os olhos também cheios d’água, que eu tivesse meu filho nos braços, que pudesse dizer a ele o quanto o amava, e me despedir.
Pedro foi o bebê mais lindo que já vi. E era enorme: 3,625kg. Um vírus, porém, pouco conhecido e estudado, levou meu menino de mim. Fez com que ele desenvolvesse uma cardiomiopatia dilatada, ainda durante a gestação (bem no fim dela, provavelmente), e que não foi diagnosticada durante o pré-natal, resultando em um choque cardiogênico. Foi fatal.
Ser mãe de um anjo não é uma tarefa fácil. A montanha russa de sentimentos é algo difícil de lidar. Há dia em que tudo está bem, mas há dias em que a vontade de sair da cama não aparece, e tudo o que se deseja é voltar no tempo, na esperança de tentar fazer algo diferente, embora fosse em vão. Os momentos de calma e resignação se misturam com os de raiva, culpa e tristeza. E ainda um vazio assustador.
Ter o colo vazio dói. Ver sair do meu peito o leite que meu filho jamais irá tomar dói. Ter suas roupas entre minhas mãos dói. A culpa é tamanha que cheguei a pensar se eu deveria devolver os presentes que ele ganhou. Mas… Culpa de quê? E então me dou conta (mais uma vez) que a culpa não é minha, nem de ninguém, mas sim do acaso.
Sair do hospital sem meu menino foi devastador. Tudo o que desejo todos os dias é ter meu Pedro aqui comigo, sorrindo para mim, chorando, fazendo manha. As lembranças, tanto dos momentos terríveis que vivi no hospital, quanto de todo o maravilhoso preparativo que antecedeu sua chegada, o que planejei para minha vida, o que imaginava que faríamos juntos, isso tudo me faz achar que nada mais há sentido, que não é possível sobreviver sem ele. Mas então percebo e sinto o amor do meu marido, familiares e amigos, e vejo que tenho que seguir em frente, ainda que me custe e doa muito.
Depois de sua partida, soube de tantas histórias, de tantas mães que também perderam seus bebês, perdas gestacionais e neonatais, e algumas outras que perderam seus bebês depois de alguns meses, ou até anos de vida. Pessoas próximas, histórias que nunca haviam sido compartilhadas comigo. Agradeço a essas pessoas por compartilhar esses sentimentos, por expor suas dores para que eu não me sinta só, para que eu saiba que, embora trágico, não fui a única a sentir partir meu amor maior.
Eu jamais serei a mesma pessoa, e não somente por conta da dor da perda. Pedro me fez uma pessoa diferente desde que soube que o carregava em meu ventre: vejo coisas que não via antes, e tenho sentimentos que jamais senti. Tenho ainda muito mais amor pelos meus pais (toda mãe diz: “você só dará valor aos seus pais quando for mãe”. Embora clichê, é a verdade mais pura que já ouvi). Agradeço imensamente ao Pedro por me dar a oportunidade de ser mãe, de tê-lo sentido crescer dentro de mim. Cada movimento dele, tudo, absolutamente tudo foi maravilhoso. Agradeço por ele me ter feito mãe. Nunca imaginei que pudesse haver um sentimento tão grande de um ser humano a outro, e hoje eu sei o que significa o amor. Nada pode ser comparado a este sentimento. E é esse amor que me leva adiante, que apesar da tristeza sem fim, me faz viver.
Eu ainda sonho com meu menino, e isso é o mais perto que posso chegar dele agora. Mas é sempre tudo tão real que acalenta o meu coração, que me faz sentir realmente perto dele, embora seja por tão pouco tempo. Agora, os sonhos são cheios de alegria, de amor entre mãe e filho, de carinho. Ele sorri para mim. Nada mais de sonhos trágicos, como os de outrora.
Pedro, meu amor verdadeiro, estará sempre vivo no meu coração e em minha alma. Desde sempre até o infinito.
 Depoimento enviado pela mãe Claudia Silva

Minha peixinha querida

Tudo mudou há exatos 2 meses, 1 semana, 6 dias e 14 horas. Parece exagero contar o tempo assim, mas, há exatamente esse tempo, aprendi o quanto o tempo é importante, e como as vezes ele faz toda a diferença entre a vida e a morte.

Minha peixinha Bruna não foi planejada, mas nem por isso foi pouco amada, na verdade ela foi muito, mas muito amada.
Descobri que estava gravida com 6 semanas, tinha saído do meu trabalho de anos e estava no meu novo emprego há 15 dias, e meu namorado estava passando um tempo fora do Brasil. Foi um susto para todos nós, mas desde o primeiro momento o amor foi enorme.
Demoramos um tempo para processar tudo, mas logo a Bruna se tornou parte das nossas vidas, e o nosso amor maior.

A gestação correu normal, somos um casal jovem, e nunca pensamos que pudesse haver algum problema comigo ou com a Bruna. Todos exames e testes estavam normais desde o início. A gravidez foi vivida intensamente, em todos os sentidos, assim que descobri mudei imediatamente tudo em minha vida, no trabalho, na academia, na alimentação, no sono, ou seja, mudei toda a minha vida.
Costumo falar que tive tudo que o que uma gravida pode ter, abria o Baby center todos os dias, e todos os dias tudo que eu estava sentindo estava lá! Parecia mais um oraculo, que adivinhava tudo o que eu sentia! Enjoos, cabelos oleosos, espinhas na pele, sangramento na gengiva, vasinhos estourados e por ai vai….

Então com 21 semanas fizemos o temido ultrassom morfológico, e graças a Deus estava tudo bem, Bruna estava perfeita, com o peso e tamanho ideal, e todos os órgãos perfeitos, e o meu útero lindo e fechadinho.
Foi então que, com 23 semanas achei que tinha algo errado, a Bruna mexia muito, até demais para um bebe de 23 semanas, mas sem nenhuma razão ela começou a mexer pouquíssimo, e foi ai que entrei em contato com nossa medica, ela me acalmou e disse que se ela mexesse 1x de manhã e 1x a noite estava tudo bem.

No outro dia ela mexeu 2 x no dia, e então fiquei mais tranquila, mas ainda assim aquilo não saia da minha cabeça, e eu senti mais uma vez que tinha algo errado, foi ai que entrei novamente em contato com a minha GO e disse que faria um ultra som, ela disse que não precisava, mas se fosse para me deixar mais tranquila era para fazer sim. Era uma quinta feira, e marquei o ultrassom para o sábado pela manhã. Falei com meu namorado e ele tbm achou melhor fazer, e depois ele me disse que tbm estava sentindo algo diferente dessa vez.

Na sexta a noite saímos, voltamos tarde e na volta colocamos pink floyd para ela ouvir : ) Com um fone grande na minha barriga, ela mexeu muito, e senti um alivio que não sentia há dias, pois estava muito angustiada até então, e depois de sentir ela chutar tanto relaxei um pouco, pensamos por um momento em não fazer o ultra no outro dia, mas depois resolvemos fazer.

No sábado acordei super bem, sem sentir absolutamente nada, estava super bem disposta, e então fomos para a clínica fazer o ultra som, lembro de chegar na clínica e ver na tv sobre os atentados em Paris, que tinham acontecido na noite anterior, e ficava pensando nas pessoas que tinham morrida lá, e pensei no desespero dos pais e famílias daquelas pessoas.

Entramos então para o exame, e logo que a medica começou eu vi minha peixinha, nadando pra lá e pra cá, ela estava super ativa e grande, e nesse momento meu coração se encheu de alegria. A medica disse que ela estava ótima e perfeita, e quando ela abaixou um pouco percebeu uma sombra no meu útero, disse que poderia ser a sombra do exame, mas que se eu não importasse ela gostaria de fazer mais um ultrassom, para ver melhor o colo do meu útero. Lembro dela dizendo comigo e meu namorado “ Vamos fazer, para vocês irem embora tranquilos e eu ir embora tranquila tbm “ Enquanto ela fazia o exame ela diz para o meu namorado “ Olha, vc vai passar a mão no telefone, ligar agora para sua medica e dizer para ela te encontrar no hospital vila da serra, pq seu bebe está prestes a nascer” Nesse momento meu mundo caiu, eu senti um arrepio no meu corpo inteiro e soube que, a partir daquele momento nossas vidas jamais seriam as mesmas.

Ligamos para nossa medica, que não teve nenhum tato para falar que nossa situação era muito grave, e que se acontecesse um milagre aguentaríamos 2 semanas, e a situação da Bruna seria péssima, pois ela tinha apenas 23 semanas e 4 dias de gestação, nasceria prematura extrema. Descobrimos então que eu estava com o colo do útero apagado, o mesmo colo que estava perfeito há 2 semanas e meia no ultra morfológico, e a minha bolsa gestacional estava herniada, e eu sem sentir absolutamente nada!

Saímos de lá sem entender muita coisa, e nem sei como conseguimos chegar no Villa, chegamos e fomos atendidos pela plantonista, que ao me examinar disse para nós que pela idade gestacional a nossa bebe não era viável, e se ela nascesse naquele dia não investiriam nela.
Nosso mundo caiu naquele momento, como alguém pode julgar, por qualquer critério que seja, em que vida investir ou não? Era da nossa filha que estavam falando, e pra gente ela era não era um ser inviável, ela era nosso bebe! Nossa filha! Que nós já amávamos mais que tudo no mundo!

Fizeram os primeiros exames e subimos para internação, naquele momento sabia que só sairia daquele hospital não gravida, e isso me dava arrepios só de pensar, sabia que a partir daquele momento minha gestação era de alto risco, sabia que não sairia de lá com a nossa bebe no colo, pq se tudo desse o mais certo que pudesse dar ela passaria meses na uti. E então tudo que eu sonhei e planejei, para o momento do parto, para o pós parto, o chá de bebe, o final da gestação, o parto normal, absolutamente todos os planos estavam desabando, e que eu teria que lutar para que nossa filha ficasse 1 hora que fosse a mais na minha barriga, e foi ai a primeira vez que me senti fora do controle na gestação e na minha vida, senti que eu não mandava em mais nada e que não tinha o controle de absolutamente nada, que o único que tinha controle da nossas vidas era Deus.

Não tínhamos muita informação e ficamos assim, sem saber o que estava acontecendo de fato até a noite, foram as horas mais agoniantes da nossa vida, pois nenhum médico do hospital nos visitou durante horas, e nossa ex medica não prestou nenhuma assistência a partir daquele momento. Estávamos lá, desesperados sem saber de nada, apenas com duas informações, que precisávamos de um milagre para durar 2 semanas e que se a Bruna nascesse naquele dia não investiriam nela.

Foi quando então, à noite, Deus nos mandou nosso primeiro anjo, o Dr Fred, da equipe de alto risco do Hospital, a equipe toda era incrível, mas o Dr Fred e o Dr Schneider eram médicos realmente diferenciados. Ele nos disse que se a Bruna nascesse eles investiriam sim, tudo o que poderiam nela, e investiriam em mim tbm, para que eu pudesse segurar o máximo que pudesse a gestação, pois cada minuto dentro da minha barriga era importante para a sobrevivência da nossa filha, mas que, para que isso fosse possível, precisaria de ficar em repouso absoluto, sem levantar para nada até ela nascer.

Nunca nos deram falsas esperanças, nunca falaram em tempo, pois eu era uma bomba relógio, que poderia dilatar e entrar em trabalho de parto a qualquer momento. Precisaria tbm ser medicada, para tentarmos evitar as contrações. Soubemos tbm que eu não poderia fazer a ciclagem, que é costurar o colo do útero, para ele não abrir, pois a bolsa já estava herniada.

Bombardeamos o médico de perguntas, eu e meu namorado, e ele era muito firme em dizer que não tinham nem ideia de quanto tempo eu aguentaria. Nesse momento o meu diagnostico era: um caso clássico de insuficiência cervical, um problema silencioso, muito difícil de ser diagnosticado antes, principalmente pq eu não tinha nenhuma pré-disposição para a insuficiência, e saber desde o começo que eu não poderia ter evitado isso e nada que eu fiz poderia ter provocado a insuficiência foi realmente um grande alivio.

A partir daí fomos muito bem acolhidos pela equipe fantástica de alto risco do hospital, descobrimos então que estávamos no melhor lugar que poderíamos estar no nosso caso, tanto para evitar um trabalho de parto prematuro quanto para que se a Bruna nascesse, pois lá tem umas das melhores uti neonatais do Brasil e ficamos muito aliviados por isso. Tínhamos a certeza de que, se a Bruna nos avisou que algo estava errado era pq Deus não queria que desse errado, naquele momento interpretamos isso como um sinal divino, pq se não fosse isso para que eu teria esse pressentimento? Afinal, se não tivéssemos feito o ultrassom ela poderia ter nascido no trabalho, no transito, na rua, e aí não teria nenhuma chance de vida, então vimos isso como um sinal, e realmente foi, só que naquele momento interpretamos errado esse sinal.

E começamos assim nossa jornada de 40 dias internados, digo internados pois meu namorado esteve o tempo todo ao nosso lado, o laço de pai e filha foi formado ali, naquele hospital, naqueles 40 dias. Ele não saiu do nosso lado por nem 1 min nos primeiros 20 dias, só ai ele deixou minha mãe revezar a noite e minhas tias e irmãs durante o dia, para ele trabalhar um pouco, e mesmo assim era apenas revezar, pois ele ia levar nossa comida todos dias, foi sem dúvidas a pessoa que fez toda a diferença nesse processo todo.

As duas primeiras semanas foram a mais tensas, pois logo no segundo dia eu entrei em trabalho de parto e dilatei 2 cm, passamos o dia todo na sala de pós-parto, com a Bruna para chegar, e nesse momento só pensávamos que se ela nascesse não teria chances, pois estava completando 24 semanas naquele dia. Sabíamos que ela precisava de pelo menos 27 semana para ter alguma chance, e 28 semanas para ser um quadro totalmente diferente do nosso quadro atual. Naquele dia eu tinha certeza que ela nasceria, e que nós a perderíamos.
Deus mandou anjos em forma de medicas, que ficaram ao nosso lado o tempo todo lá em baixo, tirando todas nossas duvidas e tentando nos acalmar.

Foi aí que trocaram minha medicação, e a partir daí fiquei 37 dias ininterruptos ligada a uma bomba de medicação, nosso grande amigo Salbutamol, que junto com a progesterona não me deixavam contrair. O salbutamol é um remédio bem forte, e bem perigoso, pois poderia me causar danos cardiovasculares após o uso prolongado, e que acelerava muito os batimentos e dava uma tremedeira horrível, me sentia como se estivesse intoxicada, 24 horas por dia, mas não me importava, a única coisa que me importava era a Bruna ficar dentro da casinha dela, que era minha barriga.

A cada dia que passava mais esperanças nós tínhamos, ouvíamos muito sobre as 27 semanas, e como nosso mundo mudaria se chegássemos lá. Não coloquei nenhuma meta na minha cabeça no começo, cada minuto era realmente uma vitória. Dividi então meus dias em 4 partes: manhã, tarde, noite e madrugada, e a cada parte dessa vencida eu agradecia: Deus, obrigada por mais essa etapa! Eu rezava, orava, cantava hinos, ouvia missa na tv e no rádio o dia todo, mas essas 4 etapas eram especiais, e agradecia do fundo da alma.

Bruna tinha 680 gramas quando chegamos, e a cada ultrassom ela crescia e engordava mais, toda segunda feira fazíamos o ultrassom, era o dia que eu aguardava ansiosamente durante toda a semana, pois fizemos um regime de engorda para Bruna ganhar peso, comia comida forte duas vezes ao dia, e tudo que poderia engorda-la de maneira saudável, e no dia do parto ela tinha incríveis 1,500kg com 29 semanas.

O período de internação foi bem complicado, por causa da medicação, acessos venosos que doíam muito e eu perdia praticamente todo dia, alguns dias até mais de uma vez, tremedeiras, não podia levantar nem para fazer pipi, a respiração era muito ruim, comer deitada, injeções para não ter trombose, dores no corpo, tinha medo de respirar, tossir e espirrar então nem pensar! Posso ficar falando horas as partes ruins de ficar acamada por tanto tempo, mas, apesar de tudo eu estava no céu, e do fundo do coração, estava muito feliz, pois sabia que cada agulhada que eu ganhava lá era menos uma agulhadinha nos pequenos braços da Bruna. Me entreguei então de corpo e alma, e sabia que tinha que ser verdadeiro, pois se não fosse meu corpo expulsaria minha filha, e virei então uma hospedeira, que a única função era gerar nossa filha.

As semanas foram passando, e a sensação de estabilidade era inevitável, mesmo sabendo que não estava estável. Quando completamos as tão sonhadas 27 semanas eu relaxei, não com os cuidados, mas relaxei a minha alma. A partir daquele momento, para mim e para o meu namorado nada mais poderia dar errado. Foi então que voltamos a fazer planos para Bruna, voltamos a falar da vida com ela, e para nós o que viesse depois das 27 semanas era lucro.

Ela fez então as 28 semanas, Ah! 28 semanas! 90% de chances de sobreviver e de não ter sequelas! Era bom demais para ser verdade, estava nas nuvens! Eu realmente tinha certeza que já tinha dado tudo certo, nada mais me abalava, compramos presentes de natal para as enfermeiras, encomendei os panetones dos médicos, montamos nossa arvore de natal no quarto e estávamos preparados para passar o natal e ano novo lá, e não teria melhor lugar no mundo para isso! Bruna estava super esperta, ela passava o dia e noite me chutando, dando cotoveladas, conversávamos o dia todo, mas não podia passar muito a mão na barriga, para não estimular as contrações.

Foi então que, com 29 semanas completas, na manhã do dia 22 de dezembro de 2015 eu comecei a sentir contrações, senti que era diferente, pois até então não tinha sentido nenhuma dor com os tônus, não senti nem quando dilatei os 2 cm quando cheguei. Liguei para meu namorado e disse que a hora tinha chegado, ele disse para tirar isso da cabeça, que eram só tônus normais, mas eu sabia que o momento havia chegado. Não senti tristeza, só gratidão. Não seria como eu sempre planejei e desejei, uma gravidez normal como de todas minhas amigas, com 40 semanas, sabia que não poderia segurar minha filha na hora que nascesse e nem levaria ela para casa, sabia que a batalha a partir daquele momento seria dura, muito mais dura que a primeira batalha no hospital, pois estariam mexendo nela, no corpinho dela e não no meu, o meu eu poderia aguentar tudo, mas não sei até quando aguentaria ver mexendo no dela, e sabia que doeria muito mais, pois a dor da alma é muito maior que qualquer dor física que eu pudesse sentir. Mesmo sabendo de tudo isso só sentia amor e gratidão, por ter tido a chance de salvar a vida dela, por ter descoberto a insuficiência antes dela nascer.

Naquele momento só pensava que ela tinha 29 semanas, que era mais do que esperávamos, só pensava nos casos que eu ouvia, de bebes de 700 gramas e 27 semanas que ficavam vivos e bem, e não tinha a menor dúvida que tudo tinha dado certo!

O parto foi rápido, tive dilatação total, e Bruna veio de parto normal. Ela era linda e cabeluda, pude tocá-la quando nasceu, e ouvi sua vozinha linda, quando chorou ao nascer. Foi tudo muito rápido, e não pude curtir tanto o momento.
E foram poucos momentos de alegria, pois assim que ela nasceu, ainda na sala de parto ela teve a primeira parada cardíaca. Fiquei desesperada, não estava entendendo o que acontecia, só olhava para traz e via um monte de médicos em cima dela, só perguntava para eles se ela estava viva! Pediram para meu namorado sair da sala, e aí senti que algo estava muito errado, fui do céu ao inferno em segundos

Alguma enfermeira me disse que ela estava bem, me deram ela para abençoar, e a levaram para a uti, mas meu coração não estava tranquilo. Ainda na sala de recuperação pós-parto, antes de subir para o quarto, a medica da uti neonatal foi me ver, disse que o pulmão dela tinha nascido muito imaturo para idade, e que estavam fazendo de tudo, e que em 24 horas saberíamos se o pulmão teria respondido a medicação.

Subi para o quarto pouco tempo depois, já em prantos, pedi na hora para meu namorado conseguir alguma notícia, e depois desse momento só me lembro de estar lá em baixo, na uti neonatal, na cadeira de rodas vendo minha filha partir, no colo do pai dela, 4 horas depois de nascer.
Só quem já viveu sabe, o sentimento que é, o desespero de não ter controle, de não poder fazer nada para salvar o maior amor da sua vida, um pedaço seu, o sentimento de impotência, o descontrole, é tudo surreal.

No outro dia bem cedo recebi alta. Deixar aquele lugar foi doloroso, estava deixando o lugar onde criei o maior vínculo com minha filha, estava deixando para trás toda a esperança, todos sonhos, todo amor, estava deixando um pedaço do meu coração.
Fizemos no mesmo dia uma cerimônia bem rápida e simples, e cremamos nossa filha.

A recuperação foi lenta no começo, por causa dos 40 dias acamada, mas de todas as dores físicas, a dor da alma era a pior. Chegar em casa, com os seios cheio de leite, com meu colo e meu ventre vazios foi de longe a pior dor que já senti em toda a minha vida. É cruel e inimaginável ser uma mãe e pai recém paridos sem seu bebe.

Descobrimos na consulta de pôs parto que a causa da Bruna não ter resistido, segundo os médicos, foi uma infecção. Por isso o trabalho de parto quando começou evoluiu tão rápido, e por isso ela não respondeu a nenhuma medicação, e partiu tão rápido. Ela partiu não pela prematuridade, mas por alguma infecção que atingiu seus órgãos, alguma infecção que foi silenciosa, e veio por causa dos 40 dias acamada com o útero exposto e dilatado nesse período. Meu diagnostico final foi insuficiência cervical.

Ainda estou em recuperação, tudo ainda muito recente, estou fazendo acompanhamento psicológico e vivo um dia de cada vez. Tenho dias melhores, e dias piores, procuro não me cobrar demais nesse começo, e estou aprendendo a viver sem minha companheira, minha maior e melhor companheira, minha peixinha Bruna, que nasceria no final desse mês, e seria de peixes, assim como o pai.

Não posso dizer para quem está passando ou passou por isso como será o dia de amanhã, pois ainda não sei como será o meu tbm, ainda é tudo muito doloroso, só posso dizer que espero ficar melhor a cada dia, e quem sabe poder pensar nela e só sentir amor, pois ainda sinto uma tristeza na alma pela falta que ela me faz, ainda quase morro de saudades. Cada dia tiro mais uma lição de isso tudo, e tento descobrir o pq e o propósito de ter acontecido como aconteceu. Nesse momento só posso ter fé e esperança de dias melhores. Esperar, entregar e confiar.

Depoimento enviado pela mãe Mariana Torquetti