A perda gestacional e o profissional de saúde

 

Trechos extraídos de um capítulo do livro “Histórias de Amor na perda gestacional e neonatal”
Autora: Carmen Lúcia Lupi Monteiro Garcia

Doutora em Políticas Públicas e Formação Humana, Mestre em Educação, Especialista em Saúde Pública, Especialista em Filosofia e Especialista em Neurociências
O relato de uma profissional de saúde e de uma mãe que passou por duas perdas gestacionais e constatou, através da sua profissão, das suas próprias perdas e da perda de suas sobrinhas, o despreparo dos profissionais de saúde para lidarem com um tema tão sensível, doloroso e importante.
“A gravidez é um momento ímpar na vida de qualquer mulher e de imensa felicidade para o casal e família. Quando acontece a interrupção da gravidez ou a perda do bebê ao nascer, verificamos que a célula familiar fica extremamente abalada.
…A Organização Mundial de Saúde distingue as perdas que se verificam antes da expulsão ou extração do bebê do corpo da mãe, independentemente da idade gestacional (sendo que a morte intrauterina pode ocorrer antes do início ou já durante o trabalho de parto) das que ocorrem já após o nascimento – constituindo, até ao sétimo dia após o parto, uma morte neonatal precoce e, entre o sétimo e o 27º dia posteriores ao parto, uma morte neonatal tardia. As perdas ocorridas nesses dois períodos (antes e após o nascimento) refletem causas diferenciadas: enquanto as mortes fetais se associam com mais frequência a complicações obstétricas ou do parto, a problemas de saúde materna ou a causa não identificada, a morte que ocorre após o parto deve-se principalmente a malformações graves, prematuridade, complicações obstétricas, dificuldade de adaptação à vida extrauterina e infecções resultantes de práticas erradas após o parto.
…Em primeiro lugar, é necessário aceitar a realidade da perda; em seguida, reconhecer e lidar com sua dor. Logo após, deve-se ajustar os diversos níveis atingidos pela perda: externos (o dia a dia) e internos (referentes à identidade da pessoa e seus diversos papéis). E por fim, desenvolver a capacidade de integrar emocionalmente a perda, prosseguindo na vida.
…Após abordarmos genericamente a questão da perda gestacional, nos deteremos a contar nossa experiência pessoal e nossa vivência profissional. Sou Enfermeira Sanitarista, Doutora em Políticas Públicas e Formação Humana, porém não recebi em toda minha formação profissional orientações e informações consolidadas sobre perda gestacional, embora tenha atuado em maternidades públicas e privadas. Mesmo sendo enfermeira, passei por dois episódios de perda gestacional. Tenho três filhos, hoje adultos, embora tenha passado por cinco gestações. Foram duas perdas muito dolorosas: uma por ocasião de contaminação por rubéola, com indicação de aborto terapêutico, que por obra do divino, não precisou ser feito e ocorreu espontaneamente; e a outra perda por má formação cardíaca do feto, também espontâneo.
…Consideramos aqui o despreparo de todos os profissionais, desde o obstetra, enfermeiros, técnicos, serviço social, psicólogos (quando existem) e administrativos. Concluímos que se faz necessário protocolos de atendimento específico para perda gestacional, treinamento e atualização dos recursos humanos da saúde, para que a dor da perda, a fragilidade do momento da perda, a valorização da vida que segue e a cidadania sejam respeitadas.
O vazio de uma perda humana não se descreve. A fragilidade da vida de uma criança requer muita atenção por parte de todos que a cercam. A pureza que com você partiu, deixou em mim a vontade de vencer, lutar por melhores condições de vida para os outros. Eu te quis, te fiz e você partiu – partiu só a matéria, porque nas minhas entranhas ainda te sinto. Te amei, te amo e te amarei para sempre, e um dia tornaremos a nos encontrar.
Eu, sua mãe,
Carmen”
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